REFLETINDO...
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De Metamorfose |
Já faz algum tempo que passei por uma situação que me fez refletir
muito em relação ao comportamento humano. Foi algo simples, mas é na
simplicidade do cotidiano que nós, seres humanos, atuamos com nossas
imperfeições.
Desde aquela época pensei em
dividir aqui com vocês este episódio e minhas reflexões por ele motivadas. Mas
sempre vinha outra ideia, um outro assunto, até que hoje, de dentro dos meus
arquivos pessoais, este acontecimento saltou e divido agora, finalmente com
vocês.
Tudo tem sua hora, seu momento,
provavelmente é agora que preciso falar do pré-julgamento, o tema deste
acontecimento.
Pois bem, eu peguei um ônibus,
daqueles pequenos, que existem cada vez menos aqui no Rio de Janeiro. Era
daqueles micro-ônibus onde o motorista acumula a função de cobrador. Geralmente
estes ônibus só tem a porta da frente, por onde se entra e sai. Só que este
tinha também a porta de trás para a saída.
Num dado momento, uma moça fez
sinal para saltar e o ônibus parou. A moça, uma garota bonita de uns dezoito
anos, foi saindo pela porta da frente. O motorista fez um escândalo dizendo que
ela tinha que sair pela porta de trás. Ela já havia passado pela roleta e disse
sem se exaltar que não tinha reparado que havia a porta de trás.
O motorista a fez pagar
novamente e depois que a garota saiu, tanto ele, quanto os três passageiros que
estavam no veículo, além de mim, começaram a julgá-la. "Ah, que não
reparou o quê!" "Claro que reparou!" "Está se fazendo de
distraída!"
Eu não me contive e disse que
eu mesma não havia reparado na existência da porta de trás, e argumentei que
muitos desses ônibus não possuíam esta porta, principalmente quando não havia
cobrador. Parece que ninguém ouviu e preferiram continuar a falar mal da moça.
Como as pessoas gostam de falar
mal dos outros! Parece que há muito mais prazer nisto do que falar bem!
Provavelmente é para não terem tempo de perceberem seus próprios defeitos, suas
próprias imperfeições.
Algo tão banal, tão corriqueiro
e as pessoas se agarram naquilo e transformam qualquer um em bode expiatório de
seus próprios desesperos.
Estamos sempre julgando o
outro, o tempo todo! Na maioria das vezes este pré-julgamento vem dos nossos
fantasmas interiores, de nossos complexos de inferioridade, de rejeição, do
medo de ser passado para trás, do nosso constante papel de vítima. E é por tudo
isto que levamos tudo para o pessoal. A vitimização é terrível, mas também
muito cômoda.
Tecemos mil probabilidades,
fazemos inúmeras conjecturas, levamos tudo para o pessoal, quando na verdade a
ação do outro não quis nos afetar negativamente em nenhum momento.
É importante, então, lutar
contra este papel de vítima se queremos ser vitoriosos e donos de nossa própria
vida e principalmente de nós mesmos. A autoconfiança não combina com a vítima,
muito menos a autoestima.
Lembro-me de uma vez em que um
amigo meu bastante conhecedor da Magia me disse. "Anna, você é uma pessoa
muito boa, gente assim sofre muito."
Eu disse logo a ele: "Pode
parar! Eu não vou assumir este padrão e nem ficar mantrando isto!"
Primeiro que não sou muito boa.
Tenho qualidades e defeitos como todo mundo. Possuo minha luz e também meu lado
negro, que todos nós temos. E faço questão de conhecer cada vez mais este lado
não luminoso para poder lidar bem com ele.
Pois é nos conhecendo em nossa
totalidade, luz e sombra, que nos aperfeiçoamos e evoluímos. Não podemos fingir
que não temos nossos demônios internos. Cabe a nós conhecer e enfrentar estes
demônios. E que cada um enfrente o seu.
Falando em demônios e voltando
à história no ônibus, outra coisa que acontece muito é nos projetarmos no
outro. Projetarmos os nossos defeitos, nosso lado negro, nossa sombra, nossos
demônios.
Talvez, aquele motorista e aqueles
passageiros fossem pessoas “espertinhas," que fariam exatamente o que
acusavam na garota. Aliás, o motorista foi bastante "espertinho",
pois cobrou de novo da moça. Eles a viram como "espertinha", mas na
realidade ela foi distraída, ao ponto de levar prejuízo tendo que pagar a
passagem novamente.
Nós vemos no outro o nosso
reflexo. O outro é o nosso espelho. Nós julgamos a partir do que faríamos. E
quanto menos autoconhecimento temos, mais julgamos a partir do que somos, e
mais nos transferimos para o outro. Pois não conseguimos limitar a fronteira
entre nós e o outro, simplesmente porque não nos conhecemos, mesmo que pensemos
o contrário. E muitas vezes podemos saber que agiríamos de certo modo numa
situação, mas não conseguimos perceber que o outro se comporta de uma forma
diferente da nossa.
Anna Leão. (Favor mencionar
autoria e fonte ao reproduzir este artigo).
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