Relato de uma Bruxa Pagã.



Tenho percebido cada vez mais que é muito difícil para mim me intitular como seguidora de uma religião específica. Pois assim me sinto correndo o risco de ficar inflexível e limitada. Partindo do princípio que a espiritualidade é algo extremamente pessoal, vejo com muita naturalidade a comunhão com vários caminhos diferentes, desde que eles não se contradigam entre si.

Conversando com minha amiga,  também escritora e pagã, Lydiah de Arddhu,  falamos da Magia Natural, talvez um ótimo nome para intitularmos o nosso caminho, já que infelizmente é tão importante para o mundo atual nomear e classificar tudo e todos.

A espiritualidade é muito mais do que um nome, do que um título. Mas já que insistem ,  a Magia Natural  é a raiz, a base e a substância de todos os caminhos pagãos, algo que sempre esteve aqui, antes dos homens, antes das instituições, antes dos nomes.

Com os inúmeros  caminhos pagãos que existem  vamos nos identificar mais com uns e menos com outros. O importante é como sentimos cada caminho dentro de nós, como exercemos nossa espiritualidade através de cada caminho. Quando não é assim entramos num automatismo e num dogmatismo intoleráveis.  É preciso ter cuidado!

Vou falar um pouco da minha experiência dentro do campo da magia e do paganismo. Desde adolescente me interesso muito pela magia. Antes de conhecer o Paganismo  estudei bastante astrologia, ocultismo e magia cerimonial. Sempre admirei muito a ocultista Dion Fortune, me identificava muito com os seus ensinamentos. Porém o ocultismo dela era baseado no Cristianismo. Como eu não conhecia outra coisa achava tudo ótimo.

 Mas é bem interessante observar que não gostava nada dos livros de Eliphas Levi , ocultista muito mais antigo que Fortune e provavelmente em quem  a Magia Cerimonial do século passado se respaldou. Mesmo assim a releitura de Fortune era leve e cheia de Luz, com um toque e uma ênfase no feminino muito grande, enquanto os conteúdos de Levi  eram pesados, muito pesados.  Sentia  de Levi o peso do patriarcado, a interpretação de tudo pelo enfoque de uma época.  E o paganismo era muito, muito mal visto...

Provavelmente minha alma pagã percebia isto e me dava estes avisos, estas intuições, pois minha mente consciente ainda não conhecia o Paganismo como um caminho espiritual. Apenas ouvia falar de algo que parecia estar muito distante, pra lá dos tempos  antes de Cristo.

Lembro-me que por estas épocas eu formava grupos de estudo com uma amiga também interessada no assunto magia e também me metia numas organizações pra lá de duvidosas. Mas o meu sexto sentido era tão forte que logo dava um jeito de avisar que não era aquele o caminho.

Por fim continuei a busca sozinha. Muitas vezes deixava a espiritualidade de lado, me via recorrendo a oráculos nas mãos de terceiros e volta e meia ia conhecendo caminhos espirituais diversos.

Até que, por fim, ouvi o chamado da Deusa.  No momento certo, pois antes eu sei que não estava  preparada.  É como aquela velha máxima “Quando o discípulo está pronto  o mestre aparece”. Mas  eu tive alguns ensaios antes de ingressar  “oficialmente” no Caminho da Deusa, podemos dizer assim. Comecei a ler livros que pessoas me indicavam que falavam da Deusa, comecei a ouvir a falar em Wicca, e surpreendentemente tudo aquilo era muito natural para mim.

Foi através do ingresso no Caminho da Deusa que eu comecei a conhecer  de fato o Paganismo e ter a feliz descoberta de que ele estava vivo. Descobrir a Magia Natural foi muito mais vital para mim do que conhecer a magia cerimonial. Perceber a importância da Natureza em todos os sentidos, em todas as suas nuances foi um dos grandes presentes que a Deusa me trouxe. E eu nunca senti a divindade tão próxima de mim até encontrar o Caminho da Deusa.

Hoje, continuo meu caminho pela Deusa , a Grande Mãe, a Grande Criadora, procurando me aprofundar sempre em meu aprendizado e em   minha espiritualidade. Isto tem me levado  a penetrar cada vez mais nos ensinamentos do Paganismo Celta -  o Druidismo -  e mantendo uma relação mais estreita com seus Deuses.  Ensinamentos que aos poucos vou passando a vocês  e que irão soar dentro de cada um de uma forma única. Ensinamentos que podem não fazer sentido  para alguns e ser tudo para outros.  Ensinamentos que vão cair como uma luva para alguns e gerar questionamentos em outros. Ensinamentos que com sensibilidade poderão ser conjugados com ensinamentos de outros caminhos. Ensinamentos que me fizeram  questionar e descobrir que  acima de tudo o mais importante é ser fiel ao que sinto na minha própria espiritualidade.

Temos que ter em mente que o conhecimento, os ensinamentos são muito importantes, e muitas vezes eles vêm para derrubar pré- conceitos(ou preconceitos, se preferir) e más informações. Muitas vezes eles vêm para elucidar uma questão, ou ideias preconcebidas. Mas estes mesmos ensinamentos podem se tornar estéreis se não forem vivenciados, se não forem sentidos a nível espiritual. Aqui nada demais, não falo de grandes jornadas , nem longas meditações, falo simplesmente em sentir, sentir dentro, do coração.

Anna Leão




Comentários

Anônimo disse…
Os caminhos podem ser diferentes, mas nos levam à um mesmo lugar.
Anna Leão disse…
Sim,amigo, e esse lugar está bem dentro da gente.
Otto disse…
E dentro de nós habitam deusas, deuses, e todo um séquito de sêres iluminados que nos protegem na caminhada em busca da luz primeira e da paz. O que mais me aflige é que a maioria das pessoas busca atalhos, bifurcações...e se perde.
Anônimo disse…
Carinhosamente, eu começaria escrevendo: Anninha, minha linda. Mas este comentário precisa começar diferente. Então...

Bruxa amada,

me encanta a maneira com que vc resumiu em palavras tão sábias, tão bem colocadas e bem escritas, nossa longa conversa, deixando de lado a necessidade de rótulos e mergulhando na experiência pessoal de fé.

Parabéns pelo texto e parabéns por mergulhar em si mesma, em seu próprio espírito - de onde brota toda manifestação de fé em seu viver, tal qual é com todos os seres.

Beijos desta sua amiga bruxa, mergulhada na ancestralidade mágica e primeira deste planeta, que faz parte do DNA de todas as espécies, de todas as formas de vida, e que, por consequência, também habita em mim.

Amor,
Lydiah.
Anna Leão disse…
LYdiah querida,

Muito obrigada pelas palavras, pela conversa e amizade!!!

Beijossssssssssss

Anna
Anna de Leão disse…
Otto querido,

Obrigada mais uma vez pela participação. Concordo com vc e o que mais me aflige é ver os que colocam seu próprio poder na mão de terceiros. Mas muita gente prefere isto, a não responsabilidade e consequentemente a não liberdade.

Beijos,
Anna
Anna de Leão disse…
Biian,

Obrigada pela visita e pela importância que você dá a minha opinião.

Já fui ao seu blog e deixei meu comentário lá! Gostei muito da sua escrita!

Beijos,
Anna
O Escriba disse…
Acredito que alguns pontos poderíamos refletir, sobre a crença, ninguem é obrigado a crer em algo, vc crê no que te faz sentindo, e aprende a reconhecer por nomes, por definições, entretanto confundimos crenças interiores com crenças coletivas.
Qualquer caminho tem parametros, e é bem possível que alguma coisa não seja tal como gostaríamos que fosse. A Magia Natural não é um caminho e sim uma matéria, muito bem empregada no paganismo.
Seguir um caminho não te limita, nós como seres humanos seguimos de norte a sul, porém para seguirmos um caminho juntos precisamos crer de forma comum em grande parte de nossas visão espiritual, para podermos falar a mesma língua temos que ambos falarmos o mesmo conjunto de palavras e que estas palavras tenham o mesmo significado. Se vc se sentir ligada ao druidismo, vai fundo, mas não se engane... nada será igual a sua crença intima, a não ser que vc crie uma religião, mas mesmo assim haverá sempre alguem que não vai concordar 100%.
Será que tornei as coisas do mundo mais claras? E por gentileza, absorva, pense, filtre e depois me fale senão é isso. ;-)
Anna de Leão disse…
É ai que está, a espiritualidade é única e é por isso que a vivencio de uma forma solitária, sem problema nenhum, muito pelo contrário. O que não impede de eu passar os conhecimentos que tenho dando os nomes aos bois para não haver confusão, ou apropriações indevidas. No artigo apenas compartilho as minhas experiências pessoais, o meu caminhar espiritual até aqui, sem o intuito de concordar ou discordar de alguém e vice-versa.

Anna