RABISCOS DE ANNA
Saudade de mim
Às vezes sinto saudade de mim mesma.
Daqueles tempos em que só a minha própria companhia me bastava. Daqueles tempos
em que encontrava tanto conteúdo em mim que já me deixava completa, plena,
plena de mim mesma, em mim mesma. Não que não haja mais estes conteúdos
internos. Eles continuam ali, no mesmo lugar, dentro do meu ser, na minha
mente, coração… Fervilhando, me chamando, me dizendo: deixa de preguiça ou sai
dos outros, vem pra você! E me pergunto: será que é isto mesmo? Será que sou
mais feliz comigo mesma do que com o outro? Bom, pelo menos eu tenho mais paz
interior e não sentia essas palpitações em meu coração, nem o friozinho na barriga, como dizem,
borboletas na barriga.
Ah, mas isso faz parte! Faz parte da
paixão! E quem não gosta de estar apaixonado? A paixão dá este desassossego na
gente, deixa a gente fora do eixo. Mas ela veio em boa hora, pois eu já havia
me perdido de mim mesma. Acho que ela está até me ajudando a me encontrar
novamente. Já começa por esta saudade de mim mesma. Sinto meu ser me chamando
de volta. Então, não é aquela história de que quando estamos apaixonados nos
perdemos de nós mesmos. Não, é o contrário, pelo menos pra mim. Começo a sentir
o chamado interno, os meus momentos, minhas necessidades internas. Difícil,
porque embora sinta a saudade de mim mesma, eu só quero estar no outro. Será
isto um padrão? Ou talvez somente uma fase, certo?
Por Anna Leão
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