"Detalhes" Mágicos - Meu Ponto de Vista
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Uma das coisas que os caminhos pagãos, a Wicca e a Religião da
Deusa possibilitam é a liberdade de ação de cada um. Adaptamos nossa magia à
nossa vida e ao nosso meio ambiente. Bom, pelo menos deveria ser assim,
principalmente se tratando de caminhos espirituais que se baseiam na Natureza,
nos seus ciclos e em suas energias.
Mas infelizmente eu não vejo
isto acontecer muito. Vejo muitos bruxos no Hemisfério Sul seguindo ao pé da
letra o que está escrito nos livros com a visão do Hemisfério Norte. Sem se
ligarem em como funciona a Natureza de onde estão.
Em primeiro lugar, quero deixar
claro aqui, que é muito importante a força do praticante da magia. Perto disto
o modo como ele vai traçar um círculo, por exemplo, é quase irrelevante desde
que ele perceba que aquilo funciona para ele, desde que ele já tenha praticado
bastante.
Aliás, o experimento e a
prática são tudo na vida de um bruxo. Seguindo a "cartilha" ao pé da
letra, estamos nos comportando igual a quem tanto criticamos. Lembro-me de
quando eu era adolescente, eu questionava minha amiga católica que ia perguntar
à mãe se podia comer carne naquele dia. Eu perguntava para ela o porquê dela
não poder comer e ela não sabia me responder. Eu não entendia como ela podia
fazer algo cujo significado não conhecia. Vamos ter cuidado para não estarmos
fazendo o mesmo.
Uma das coisas mais preciosas
de nosso caminho é a liberdade, a liberdade de entender, de escolher, de
adaptar. Lembro-me de uma vez, quando começava "oficialmente" no caminho
da Deusa, que uma amiga do coven dizia: " Nada é obrigado aqui".
Vamos, então, dar valor a esta liberdade!
Bom, vou falar agora, de dois
aspectos que acho bastante importantes dentro deste contexto.
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De Metamorfose |
Quando vamos realizar um trabalho mágico, um ritual, traçamos um
círculo. Ele nos protege, concentra nossas energias, concentra a energia mágica
e nos coloca entre os mundos, nos coloca num lugar mágico.
Todos aprendem a traçar o círculo
no sentido horário, pois é o sentido do movimento do sol. É mesmo? Você já
observou isto aqui no Hemisfério Sul? Concordo que no Hemisfério Norte o movimento
do sol seja no sentido horário, mas aqui no Hemisfério Sul ele é no sentido
anti-horário. Repare bem, ele nasce no leste e vai para o norte, se pondo no
oeste. Por isto, aqui no Hemisfério Sul, o nosso Norte é o elemento fogo,
e o nosso Sul fica com o elemento Terra. Exatamente o contrário do Hemisfério
Norte.
Isto para mim faz tanto
sentido, principalmente levando em conta a natureza (interessante trocadilho)
de nosso caminho espiritual. Também tenho a informação que os povos indígenas
do Hemisfério Sul trabalham seus círculos exatamente desta forma, oposta a dos
nativos norte-americanos. E hoje em dia, quer mais em contato e comunhão com as
forças da natureza que estes povos?
Sei que o caminho espiritual
que sigo tem sua origem no HN, exatamente por isto temos que ter o cuidado de
não seguir as coisas mecanicamente. Por mais que sua origem seja de outro
hemisfério, a sua natureza permite e requer que ele seja adaptável para cada
região e meio ambiente. A magia é viva e, como algo com vida, passa por mudanças
e adaptações.
Outro ponto é a Roda do Ano.
Para quem não segue o caminho, explico que é o marco das estações, equinócios,
solstícios e seus festivais intermediários, que também marcam uma mudança na
estação. Tudo sentido tanto na Natureza externa quanto na interna, dentro de
nós, na nossa vida, pois tudo é um Todo.
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De Metamorfose |
Muitos praticantes aqui no HS, já celebram a Roda do Ano de acordo com a Natureza de nosso território. Mas ainda há muitos que insistem em fazê-la de acordo com o HN, alegando, por exemplo, que não acham sentido em celebrar a União Sagrada entre a Deusa e o Deus de Beltane, enquanto todos aqui estão comemorando o dia dos mortos, que no HN cai em sintonia com Samhain, a festa do Ancestrais.
Ora, como já falei aqui, em meu
texto da Páscoa (mês de março, vale à pena dar uma lida), estas datas também
foram importadas do HN. A Igreja adaptou a maioria dos festivais pagãos e os
transformou em suas datas festivas; o Natal, por exemplo, é uma delas. Porém, a
Igreja não se importava com a Natureza e seus ciclos. Quando a América do Sul
foi colonizada, os colonizadores eram cristãos e europeus e impuseram seus
costumes, suas datas, sem se ligarem se estavam em conformidade com a Natureza
daqui, pois para eles isto era irrelevante.
Mas para nós pagãos, não. A
Natureza é muito relevante! E, ao meu ver, usar o argumento das datas cristãs
para celebrar a Roda do Ano de acordo com o HN é ser um bruxo cristão e não um
bruxo pagão. É se submeter a algo que não faz parte do seu caminho, é mais uma
vez estar subjugado, e desta vez com consentimento.
Alguns alegam que as egrégoras
correspondentes não estarão aqui, pois elas são do HN e só vão atuar de acordo
com aquele hemisfério. Bom, pensando assim, então elas nunca virão! Bobagem!
Pois eu acho exatamente o contrário. Tenho certeza que elas estão aqui sim,
principalmente porque estão de acordo com o meio-ambiente. E depois, eu confio
na minha magia e na essência do meu caminho. E principalmente confio nos
Deuses.
Não comemorar a Roda do Ano
dentro do seu giro natural no HS, para mim, é perigoso. É como se travássemos
esta Roda, que tem que girar sempre, é como se a girássemos no sentido
contrário, o que não é nada bom.
Tudo isto é a minha opinião
pessoal. Estou aqui querendo alertar para procurarmos sentir, intuir e pensar,
além de experimentar. Todo o conhecimento que nos chega deve passar por estas
etapas. Não devemos "comprar" o modelo pronto. Se você está no HS e
celebra a Roda do Ano como no HN sentindo que assim funciona para você, que
você se identifica desta maneira, que é assim que flui para você, não sou eu
quem vai discordar da sua vivência e experiência!
Coloquei aqui o meu ponto de
vista no momento presente da minha vida. Amanhã posso aprender ou vivenciar algo
novo que faça sentido para mim e mude toda esta forma de pensar. O importante é
refletir sobre o que aprendemos, tirarmos nossas próprias conclusões e
aplicarmos de uma forma que faça sentido para nós. Afinal, a primeira coisa que
um bruxo é em essência, é um livre pensador.
Anna Leão (Favor mencionar
autoria e fonte ao reproduzir este artigo).
Comentários
Obrigada!
Rachel
Adorei a sua colocação, principalmente ao que se refere em ser 'um bruxo cristão e não um bruxo pagão', essa é a questão! rsrsrs...
Ai, minha Deusa! É tão simples que acaba sendo até engraçado, mas muito verdadeiro.
A Roda do Ano fica mais fácil de se entender quando observamos a própria natureza e as suas mudanças. Que assim seja!
Beijos e bênçãos...
)O( Rowena
A astrologia comprova bastante a relevância da sua questão, pois o lugar onde a pessoa vai passar o aniversário interfere diretamente na sua Revolução Solar - o mapa do aniversário, que fica valendo até o próximo aniversário, faz parte das previsões astrológicas junto com os trânsitos. Para a atrologia, passar o aniversário em outro estado já dá uma boa diferença, pois o ascendente provavelmente será outro. Já conheci casos de pessoas que tinham possibilidade de escolher onde passar o aniversário e faziam as RS com antecedência par ver qual seria a melhor. Em outro hemisfério a mudança será maior ainda, mas pode ser muito bom. Eu gostaria!
Bjs
Anna.
Obrigada!!!
Pois é, é tão simples que acaba sendo engraçado...
Sejamos sempre bruxas pagãs, com as bênçãos da Deusa!!!
Beijos,
Anna.